Vai Veríssimo, fica a obra
“Vou morrer sem realizar o meu grande sonho: não morrer nunca.”




Aos 88 anos, o escritor, cronista e humorista Luis Fernando Verissimo.Deixa de luto a literatura brasileira e uma obra gigantesca. Um dos mais importantes e populares autores brasileiros do último século, ele estava internado na UTI de um hospital em Porto Alegre, sua cidade natal, com princípio de pneumonia.
Filho do também icônico escritor Erico Verissimo, Luis Fernando Verissimo construiu uma carreira literária distinta e massivamente popular. Ao longo de mais de 60 anos, publicou mais de 70 livros, que somam 5,6 milhões de cópias vendidas, e se tornou um dos cronistas mais lidos do país, com colunas publicadas em jornais como “O Estado de S.Paulo”, “O Globo” e “Zero Hora”. Sua trajetória na imprensa começou justamente no jornal gaúcho, onde foi revisor em 1966, anos antes de lançar seu primeiro livro, “O Popular”, em 1973.
Destaque para as coletâneas de crônicas, como a célebre série “Comédias da Vida Privada”, que foi adaptada para a televisão com grande sucesso nos anos 90. Sua galeria de personagens incluem O Analista de Bagé, a Velhinha de Taubaté, o detetive Ed Mort e os tipos da Família Brasil.
Dez frases do imortal que jamais serão esquecidas :
“Vou morrer sem realizar o meu grande sonho: não morrer nunca.”
“Quando a gente acha que tem todas as respostas, vem a vida e muda todas as perguntas.”
“Conhece-te a ti mesmo, mas não fique íntimo.”
“A vida é a melhor coisa que eu conheço para passar o tempo.”
“Eu não sei para onde caminha a humanidade. Mas, quando souber, vou para o outro lado.”
“Meu medo é que tenha outra vida após a morte, mas que seja só para debater esta.”
“O mundo não é ruim, só está mal frequentado.”
“Escrever não me dá prazer, gosto mesmo é de soprar saxofone.”
“A biblioteca é o lugar onde começamos a nos conhecer.”
“Não há nada que um homem possa fazer no espaço que uma máquina não possa fazer melhor, a não ser morrer.”


Trajetória
Verissimo deixa a esposa Lúcia Helena Massa e três filhos: Pedro, Fernanda e Mariana Verissimo. Ele tinha mal de Parkinson, problemas cardíacos e sofreu um acidente vascular cerebral (AVC) em 2021. Um ano depois, recebeu um marca-passo.
Filho do escritor Érico Verissimo, Luis Fernando publicou mais de 70 obras, entre elas As Mentiras que os Homens Contam, O Popular: Crônicas ou Coisa Parecida, A Grande Mulher Nua e Ed Mort e Outras Histórias.
Foram as crônicas e os contos que o tornaram um dos escritores contemporâneos mais populares no país. O Analista de Bagé, lançado em 1981, teve a primeira edição esgotada em uma semana.
O escritor construiu uma trajetória profissional rica, com atuação em diferentes áreas e produção em vários formatos. Trabalhou como cartunista, tradutor, roteirista, publicitário, revisor, dramaturgo e romancista.
Sua obra é marcada pelo bom humor, assertividade e crítica. Além das palavras, foi um amante da música, dedicado ao saxofone.
Sua produção literária abrangeu gêneros diversos, desde crônicas humorísticas até contos e romances que retrataram com graça e maestria o cotidiano brasileiro.
Além dos livros publicados, Verissimo também teve presença cativa na imprensa nacional.Conhecido por seu posicionamento político de esquerda, Verissimo foi um duro crítico do governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e sempre elogiou os primeiros governos petistas pela inclusão social e diminuição da desigualdade no Brasil.
Ele também defendia que “todo mundo deve ter lado, e deixar claro qual é”.
“Talvez ingenuamente, eu não entendo como uma pessoa que enxerga o país à sua volta, vive suas desigualdades e sabe a causa das suas misérias pode não ser de esquerda. Ser de esquerda não é uma opção, é uma decorrência”, disse o escritor, em entrevista à Folha de S.Paulo em 2020.
Sucesso das páginas às telas
Além de sua prolífica carreira como escritor e cronista, Verissimo teve uma significativa participação na televisão brasileira, com trabalhos como roteirista e criador de séries de sucesso.
Na rede Globo, foi redator de programas como Planeta dos homens, Viva o gordo e TV Pirata.
Mas seu maior sucesso nas telas veio com A Comédia da Vida Privada, série de 21 episódios, exibida pela Globo entre 1995 e 1997.
Criada por Jorge Furtado e Guel Arraes, teve roteiros de grandes nomes Pedro Cardoso, Fernanda Young, Guel Arraes e do próprio Verissimo, que teve suas crônicas adaptadas e também escreveu roteiros originais para alguns episódios.
Exibida às terça-férias, a série tinha como enredo histórias do cotidiano de pessoas da classe média brasileira, com um estelar elenco de mestre da comédia nacional, como Marco Nanini, Pedro Cardoso, Fernanda Torres, Marieta Severo, Andréa Beltrão, Luiz Fernando Guimarães, entre outros.
“Diálogos ágeis e engraçados, edição rápida, efeitos eletrônicos e interpretação teatral de texto baseado na obra do escritor Luis Fernando Verissimo fazem o sucesso do programa. Mesmo que muitos dos termos e situações abordadas estejam há muito fora de circulação.
Frases de Veríssimo sobre a morte


Na velhice, já debilitado pelos anos e pelos sucessivos problemas de saúde, o escritor falava da morte com um misto de tristeza e doçura, com a leveza típica de sua obra.
“A morte é uma injustiça, esse é a melhor descrição. Mas a gente tem de conviver com isso”, disse ele à Folha de S.Paulo, em 2011.
“A gente vai ficando mais lento de pensamento. Nesse sentido, estou sentindo a velhice. Mas aí é tentar aproveitar a vida da melhor maneira. Enquanto der para aproveitar a nossa neta, ir ao cinema, viajar, a gente vai levando.”
Em 2013, após deixar o hospital onde havia sido internado na UTI, em função e um gripe que evoluiu para um quadro de infecção generalizada, foi ainda mais radical, em nova declaração à Folha.
“A morte é uma sacanagem. Sou cada vez mais contra.”
Uma Homenagem a : Luiz Fernando Verissimo
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Fotos: Divulgação