Sem previsão de entrega de obras, presidente vem à capital para prestigiar eventos militar
e religioso e deve participar de motociata
O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) chega à 15ª agenda oficial em Goiás, desde
que assumiu o mandato, com dois eventos marcados para hoje e amanhã em Goiânia.
Nesta sexta-feira (27), ainda pode participar de uma motociata na capital, reforçando o
caráter político de suas agendas nos Estados. O governador Ronaldo Caiado (DEM),
que estava afastado do presidente, confirmou presença nos dois eventos.
Bolsonaro vem hoje a Goiânia para a solenidade de passagem de comando do
comandante de operações especiais, general de Divisão Gustavo Henrique Dutra de
Menezes, para o general de Brigada Carlos Alberto Rodrigues Pimentel, que será
realizada, a partir das 10 h, no Comando de Operações Especiais do Exército Brasileiro
Goiânia.
Na parte da tarde, o presidente deve participar de uma motociata na capital, organizada
pelo grupo Brasil Verde Amarelo. Bolsonaro e um grupo de apoiadores devem sair do
comando de operações, no Jardim Guanabara, por volta das 14h30. Segundo
confirmou o cerimonial do presidente, a ideia é que ele durma em Goiânia para
participar do evento programado para a manhã seguinte.
No sábado (28), Bolsonaro participa do 1º Encontro Fraternal de Líderes Evangélicos,
marcado para as 9h, na Igreja Assembleia de Deus de Campinas. Também já está
programada uma reunião do presidente com líderes políticos de Goiás logo após o
evento, em uma estrutura localizada ao lado do templo religioso, pertencente à
Assembleia de Deus.
Levantamento feito pelo POPULAR na agenda do presidente identificou pelo menos 13
visitas de Bolsonaro a Goiás desde 2019, o primeiro ano de seu mandato na
Presidência da República. Com as duas programadas, deve fechar 15 agendas formais
no Estado, fora as visitas surpresa que já fez (veja o quadro ao lado). Depois dele, o
presidente que mais esteve em Goiás em um mandato foi Lula, entre 2007 e 2010, com
9 vindas.
As visitas dos presidentes costumam ocorrer em inaugurações de obras públicas. No
caso de Bolsonaro, essa motivação não é protagonista. A agenda deste sábado, por
exemplo, já é a terceira do presidente em igrejas evangélicas. A de sexta, no comando
do Exército, é a quarta em que ele prestigia eventos militares.
Para o cientista político Robert Bonifácio, que é professor na Universidade Federal de
Goiás (UFG), as exposições do presidente fora de Brasília têm sido atos políticos.
Segundo ele, Bolsonaro tenta, com isso, se apegar a setores que já o apoiam.
“Ele não tem muita preocupação em expandir sua base eleitoral, no sentido de
conquistar outros setores”, afirma, ao lembrar que geralmente o público desses atos é
conservador, como no caso das igrejas e do setor militar.
Robert também credita a frequência de vindas a Goiás a esse apego à sua base
eleitoral. No Estado, o presidente conquistou 65,5% dos votos válidos no segundo
turno de 2018, por exemplo. Em Goiânia chegou a 74,20%, ficando atrás apenas de
duas capitais em porcentual de votos para Bolsonaro.
Relação
Soma-se à importância política das vindas do presidente por dois dias seguidos a
confirmação da presença do governador Ronaldo Caiado. Nos últimos meses, era
demonstrado nos bastidores um afastamento entre o democrata e o presidente. Os
dois, que começaram os respectivos mandatos unidos, romperam no início da
pandemia quando Bolsonaro criticou as medidas tomadas pelos governadores no
combate ao avanço da Covid-19. Eles acabaram reatando, com discursos de proximidade em eventos em Goiás. Neste ano, voltaram a aparecer sinais de
afastamento, inclusive com chances de Bolsonaro lançar um candidato para disputar o
governo do Estado.
Nesta semana, porém, em reunião do Fórum dos Governadores, Caiado se posicionou
contra a publicação de uma carta de repúdio às ações antidemocráticas do presidente,
que também tem feito ataques a ministros do Supremo Tribunal Federal. O governador
defendeu diálogo para “evitar interpretações”. Mas também sinalizou incômodo com a
tentativa de Bolsonaro de jogar aos Estados a culpa pela alta do preço da gasolina.